reflux

poemas não dizem nada.
não agora.
nem imagens, nem nada.
vou lentamente apagando de dentro,
as nuvens que vi nascer pela manhã.
eu não estou frágil,
estou partido.
estou contente.
contente por voltar ao zero,
contente porque o amor é e sempre será zero,
contente por saber que o amor incomoda
mais do que revoluciona,
contente pelo silêncio,
pelo vôo,
pela diluição,
pelo frio de uma noite tempestuosa de outono,
contente por saber que a política pode ser mais importante do que eu.

contente por descobrir que as megalópoles criam couraças indestrutíveis numa pessoa que está gostando de ouvir
marlene dietrich falling in love again
no fim de uma noite minha

e mesmo se eu afogasse em cerveja ou espumante
não salvaria uma alma por escolha,
não salvaria nada nem ninguém,
pois todos estão comprometidos
com suas couraças indefensáveis, seus esmagamentos particulares, suas máscaras escarlates.
dividirei manhãs entre a santidade e o discurso revolucionário,
e o sol chegará ainda mais,
enquanto indústrias de todo tipo inventarão novos e mais potentes protetores
contra a liberdade humana.

porque dane-se quem pode ouvir, dane-se quem pode ficar perto,
compra-se paranóias a metro
e nunca haverá temperatura suficientemente cálida
que não seja apenas performance fake.

que se dane 2013,
o trânsito que não anda
a cracolândia, a lisergia,
os roteiros televisionados . Sex and the city, bela piada.

que se danem as macieiras, os astrólogos,
os conhecedores profundos de palavras.
que se danem
os poetas
apaixonados
por rapazes problemáticos
porque a vida não é muito maior que isso.
nem o tempo sabe esperar.

melhor Alice entrar no espelho
melhor Dali nunca mais voltar.
o que resta é escravidão servil
e memória inconfiável.

são 3 horas da manhã e eu sei que forças eu desencadeei no universo.

agora o refluxo.