CÉU AZUL

Impressões de viagens, alquimia de verbos, tempo quando sobra e dá vontade. Casamento de sonho com vigília. Corpo de ser vagando pela dimensão das palavras.

Friday, November 24, 2006

Ressonância

Deve ter sido então o futuro mesmo que chegou quando eu entrei naquele túnel sem ter morrido ainda, com o braço espetado pingando um contraste transparente pra dentro do meu cérebro, que estava ali para ser averiguado, escaneado, vasculhado. Brain Damage, anyone ?
A técnica em enfermagem furou com cuidado, e estava perfumada em violeta, mas disse que não, talvez fosse espírito. Deu-me roupa, avental e sapatilhas, para usar. Tive que ficar espetado por um tempo, e de vez em quando o vermelho tentava aparecer, mas uma pressão na seringa clareava a passagem incolor dentro do longo e espiralado tubo plástico.
Deitei na cama, prestes a ser posto no túnel que mais parecia um forno. Seria cremado ? Puseram um rolo de almofada embaixo dos meus joelhos, amarraram com fitas adesivas minha cabeça para que ficasse imóvel imóvel, deram-me algo para segurar na mão esquerda que me serviria para apertar se tivesse de pedir socorro. A esteira andou.
Não abri os olhos não, não podia. Nem mexer nada. Durante 20 minutos, estático. Os sons então começaram : Intona Rumori dadaísta, música concreta, minimal techno ou mais até do que isso. Talvez tenha enfim entendido as trips do Aphex Twin ou aquelas coisas estranhas da WARP Records... era PRRRRRRRRRRRRR.... p-p-p-p-p-p-p-p-p-p.... rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrruuuuuuuuuuuuuu....trrrrrrrrrrrr/trrrrrrrrrrr/trrrrrrrrr, zmmmmmmmmmmmm..... PRRRRRRRRRRRRRRRR
Pensei, sem abrir os olhos : Música.

Me desengavetaram : pensei na sensação de ter sido abduzido.
Saí zureta.


Que cores aparecerão nos desenhos do meu cérebro ?