Paul Gauguin
Do outro lado do mundo, as cores mais puras talvez, a confirmar a visão já descompensadamente delirante de absinto e doença. Seria o Selvagem, usaria pareôs e peito nu refrescado pela brisa marinha de gigantes ondas muito verdes, em praias de sol e areia muito rosa.
Seria uma libertação qualquer do que PRECISAVA ser libertado, a saber uma alma configuradamente simbolista. O selvagem que percebe a largura de uma folha orvalhada pela noite profunda próximo a um vulcão de cianureto. O doce cheiro do sexo das frutas abertas sobre esteiras trançadas, despudoradas, desavergonhadas, como em França não se via tão límpidas.
Seria primitivo, em planos arredondados e bem delineados, planos morenos e de tantas cores complementares e opostas, que inauguraria a possibilidade até então remota de um mundo paradisíaco e carnal, diferente do exotismo delacroixziano.
Seria taitiano, seria egípcio e japonês, criando uma linguagem visual sem igual, onde antes só havia bailarinas ou cenas de passeios no Sena. Esse deslocamento geográfico em relação ao Sol. Diferente de Van Gogh, ele era, e era muito mais completo. Há uma afirmação humana implícita na pintura de Gauguin muito mais imponente e democrática que na pintura nervosa do holandês. E uma simultaneidade, quando dos retratos duplos, sendo estes, de uma mesma pessoa. Cubismo ?
Sobre todas as dificuldades de um corpo lentamente doente, e dificuldades financeiras, mais um caráter notavelmente "difícil", a pintura se realizou como um oásis, com uma organicidade comovente.
Pintor arrogante, dândi espalhafatoso, vagabundo transcontinental,
Paul Gauguin lá do outro lado, em 1900, realizou a máxima de ser absolutamente moderno, e pagou caro pelas consequências.
1 Comments:
hum muito lindo, e perto do apaixonante. uma análise não fria/ uma proposta perto das cores e de outro jeito das coisas.
Post a Comment
<< Home