CÉU AZUL

Impressões de viagens, alquimia de verbos, tempo quando sobra e dá vontade. Casamento de sonho com vigília. Corpo de ser vagando pela dimensão das palavras.

Wednesday, November 29, 2006

Bad Kitsch

Já foi dito que o KITSCH é a arte da felicidade, mas hoje eu acordei pensando num Bad Kitsch, numa arte da felicidade negativa...
Pensei nisso por causa do desenho de uma caveira, e pareceu-me que caveiras estão em todos os lugares... Por que a Demência parece visualmente uma coisa cool ? Eu francamente não gosto de caveiras... Acho brega, e achei ridículo demais quando me deparei na Tok Stok com uma xícara preta do Herchcô com uma caveira dourada estampada...

Essa demência deve vir dos estados unidos, talvez a partir dos anos 70, quando a nojeira passou a ser moda, no pós desbum flower power... Talvez tenha sua origem nas bad trips de ácido... Distorções de um expressionismo capenga, fundamentos de toda uma mitologia urbana, pessimista, danada, da qual é impossível fugir...
Em Dogtown and Z-Boys vemos como o skate como conhecemos hoje tem suas origens nas dissidências dos surfistas mais cavernosos de Los Devils e nos designs ríspidos da Zephyr store... Pink Flamingos também, com aquilo de Filthiest Human Being... O cinema é cheio desse bad kitsch, quando inventa nas telas uma geração cada vez mais suicida para manter o mito da rebeldia sempre e cada vez mais presente. Atualmente a Juxtapoze magazine investe nessa visualidade surrealista trash, de um gosto MUITO duvidoso. Fico pensando quem compra aquelas pinturas horrendas... Zé do Caixão e Russ Meyer são outra coisa, não estou me referindo a esse tipo de trash...
Isso é curioso. Porque toda essa cultura visual que privilegia os estados alterados, os personagens mutantes, "do mal", acaba sendo atualmente de uma cafonice insuportável. Uma arte da felicidade negativa. Como se a única alternativa cool fosse via essa geração amalucada dos filmes do Larry Clark. A visualidade dilacerada como identidade obrigatória de neo-trogloditas. Triunfo do heavy metal travestido em atitude punk. Em suma : puro conservadorismo a la Marilyn Manson ou Evanescence. Overdose como sintoma máximo da sociedade de hiperconsumo onde o acúmulo é excessivo e pior, can´t get no satisfaction no.
O Graffitti às vezes também cai nessa cilada, dessa urbanidade patológica. Considero muito o graffiti com suas letras distorcidas, suas cores vibrantes, etc. Só passo a não curtir quando rola personagem de cabeção, diabos e diabas e diabinhos, etc... Porque aqui tivemos a Rainha do Frango Assado, os Tupinãodás, e lá o maravilhosamente pop Haring ...
Até que ponto o graffitti é expressão urbana e até que ponto é apenas uma obrigação para se estar por dentro de uma cultura pretensamente hip hop de 30 anos de idade já ? Graffitti é bacana quando pensa.
O bad kitsch investe fundo num nihilismo recheado de culpa religiosa, sendo portanto, apenas o outro lado da mesma moeda do kitsch do bem, do kitsch dos santinhos e das paisagens aveludadas. O bad kitsch é medievalista, ocultista, se pretende diabólico, violento, macho, fora-da-lei, marrento, pitbullesco, acredita em inocência perdida, nos infernos artifíciais, nas guerras redentoras, na inércia paralisante dos games, no doom, no gloom, o bad kitsch é bad, apenas ruim mesmo. e mais nada.
Eu acho estranho.