CÉU AZUL

Impressões de viagens, alquimia de verbos, tempo quando sobra e dá vontade. Casamento de sonho com vigília. Corpo de ser vagando pela dimensão das palavras.

Friday, November 30, 2007

breguice enraizada

Nós, "Os Normais",
somos tão estudadinhos, tão
confiantes nas nossas pequenas-grandes erudições, nós,
"Os Diferentes" por natureza
e por talvez mais quilometragem de linhas lidas rapidamente, nós

que não damos conta
nunca
do recado
abafado
nos megafones da feiúra mísera, da piada mais sem graça,
do que se pretende popular-cafona,
e que,
noves fora,
é apenas cafona mesmo.

Não é caso de citar teses de "high and low",
ou estudar o kitsch magistralmente,
como já foi feito com casas do subúrbio,
arquitetura de motéis,
placas de beira de estrada,
ou coisas parecidas.

Não é mais uma breguice almodovariana,
breguice-Movida,
que, quando reconhecemos em nós,
até pode nos encher de um orgulho multicolorido.

É o verdadeiro horror, o horror !
apocalíptico,
uma substituição virótica
dos orgulhos infinitamente ignorantes,
nova idade das Trevas,
pontuada pela piscante luz azul
dos aparelhinhos de tv
ligados nas violentações domésticas diárias.

O brega-invasor-de-corpos,
que veio pra ficar,
que modificou os dnas,
e com o qual não será fácil resistir.

O brega que não é questão de gosto,
mas de saúde.

angústia do desaparecimento

Aura outra,
outras eras.

mudança de itinerário, danças
mudas.

Wednesday, November 21, 2007

PROIBIDÃO

a firma é forte
a cama balança
bota o fuzil pro alto
as novinha qué pirú
bandido traficante
157 terrorista
155 de celular
menor colombiano
bonde chapa quente
fecha Suburbana
os irmãozinho
boladão pesadão
soh prostituto
canudo de ouro
bota a buceta pra cima
caga pau
taca bala
vira a bunda que lá vai vagalume.

ela desce ela sobe
amante trepadeira
cheia de leite
não se assuste se tu ver
olha o cheiro da marola
morreu pra matar o inocente
caveirão no morro
Deus cadê vc
disseram que vai ter operação
pisca o cu pra mim
vagabunda mercenária

vida na cadeia
geral cantando
arruda neles
paudurescência
se o meu pau não parar de crescer
fortaleceu grandão
gordo mete bala
jacaré é tiro certo
o bonde partiu pra rocinha
na onda do remedinho
passa o piru nela
passou uma suzuki na pista
encaixa nela
pega uma novinha de 14
pica pau
quebra cama
se pegar minha filha de 14 vai tomar de ak47

só psico
tá peidando pra caralho
troca e aplica
up up faz meu pau de chup chup
vai arrancar sua calcinha
a penha tá pesada
atividade ponta a ponta
bota o cu na reta
demorou dá um 2
tira o leite
perereca batendo no saco
quem nasceu nasceu
só portamos Lacoste
joga a Blaser pro ar
movimento das favelas
poder paralelo ao vivo
safadoverme
pente de 90
bandido não chupa, bandido mastiga.

Monday, November 19, 2007

teleguiado / salto quântico

Em 2010 não faremos mais contato. Parece que houve um salto quântico e as coisas que antes haviam, agora não mais. Isso é regra ?

Em todos os cantos uma tv despejando.

Era pra ter ido ali jantar e sentir os prazeres da língua,
era pra ter ido dançar ou namorar,
mas a supremacia da imagem hipnotiza, a imagem perpassa e bestializa. E a quem mais pode interessar Arte Moderna ?

Nem é mais o que está escrito, apenas a superfície do corpo, cada vez mais editado.
Sobra um "gap", diferente do Vazio-Bienal.
Deve ser fruto do tal Bug do milênio...

Mas será possível se perder assim todas as conquistas do século XX ?

Saturday, November 17, 2007

na violência é importante definir papéis

Se alguém pretende atacar
precisa respirar fundo e dizer firme e forte :
"PERDEU" !

porque a violência também tem um lado teatral,
mas dizendo assim
parece irresponsável da minha parte.

Penso sempre no vampirismo embutido nos gestos criminosos,
porque perde-se vida, perde-se sangue,
dinheiro...

e para o agressor é sempre importante a palavra exata,
a palavra cortante, a palavra-ferimento psíquico,
a palavra-ameaça de morte.

Quem quer se apoderar de algo do outro
também quer se apoderar do outro em si.

Império 1,99

A noite prometia.

A Banda 1,99 de meu amigo Rody iria tocar num ambiente por assim dizer "inusitado" : a quadra da Império Serrano, no coração de Madureira. Não podia deixar de ir. A noite prometia.

E foi uma delícia ter ido. Peguei o trem na Central corrida e confusa. O trem velho mesmo, o trem azul, com aquele encosto duro. A partir dali as pessoas tiveram outras caras. Ambulantes são proibidos, mas sempre se dá um jeitinho. E cervejas eram vendidas em mochilas rápidas. Como trem sacode !
Maracanã, 1 pipoco na Mangueira que não podia deixar de ter, Piedade !
Chega Madureira e tem 2. Pra onde sair ? Ah ! tem que primeiro subir e atravessar pra passar pro outro lado e ir pressentindo a Edgard Romero. Rio, sempre de churrasquinho e de cervejinha... mas chego afinal na Império.
Quadra com muitas clones de Carmen Miranda que era festa e esse é o enredo pra 2008, e é por isso que 1,99 está ali. Quando entro já tá rolando "TAÍ".

Que pitoresco !
O carnavalesco atira bananas, não se decide entre ser Clodovil ou Chacrinha, mas de qualquer forma é uma presença bem QUEER. (ou QUÁQUÁ, se preferirem). E as Carmens colorem caotica e tropicalisticamente o salão... que doideira ! tem Carmen alta, Carmen baixa, tem gorda, tem magra, tem Carmen homem, Carmen mulher, Carmen com pelo nas costas, Carmen-despacho, Carmen-copacabana, Carmen-oxossi, Carmen rica, Carmen pobre... hilário... e muito bonito também...

Depois samba-se e interage-se como pode. A cerveja é barata, latão a 2. A pipoca, repleta de grandes toucinhos e cheia de aji no moto.
A noite está ótima ! Os tipos também. Fico admirando o mestre da harmonia, comandando a bateria, e uma senhora farta, de turbante colorido e saia rasgada, daquelas bem típicas...

Vou com Rody fazer um turismo na tal Rua da Lama, pois ele insiste. É impressionante tal concentração, de fazer pensar, mas algo pra mim não bate, não sei o que é. Talvez o excesso de gente e de azaração inócua... Não nos demoramos.

No final da festa, uma carona básica pra Lapa.

Monday, November 12, 2007

loucura

passo a vida preparando estratégias de descanso e prazer desmedidos, como boa fórmula de conhecimento. As estórias vão se acumulando, cada uma com sua desimportância relativa, a não ser as mais graves, as estórias-cicatrizes. O tempo se acumula no corpo.

Se por um lado, o somatório produz esclarecimentos, por outro, esse mesmo somatório também traz overload de processamento. É sempre uma guerra química. Aprender a respirar, aprender a engolir sapo, aprender a parar e recomeçar, aprender a não fugir, aprender a querer outra coisa menos querida, e assim por diante.

Loucura é ter encontrado.

Menos um mundo fabulosamente místico ou holístico ou mesmo artístico - mais o peso e a pressão (atmosférica ?) sobre os pensamentos e as atitudes a serem escolhidas. Não há sangue que resista. Não há sangue que resista à literatura. Não há literatura sem cinema atualmente.

O corpo irá sempre implorar amor, talvez por ordem constitutiva do organismo mesmo. Coisa interna, bagunça de proteína. Vontade de reconhecimento, que logo se transforma. Em autoritarismo interpessoal.

Tenho medo não das simultaneidades, ou da solidão entre 4 paredes com janelas. Nem medo das cortinas que decidem se o sol vai brilhar ou não. Tenho medo de não conseguir nunca mais falar. Medo de que não haja receptor.

Lentamente, através dos anos e das épocas mais ou menos modernas, o corpo vai aprendendo a tremer irreversivelmente.
O Ser contra a Urgência.
O Trabalho, a Posição, o Consumo, a necessidade de construir, as narrativas heróicas, o vício da poesia, a loucura como derrapagem fatal.

calor do teu rosto

quanto tempo faz
e quanto tempo durou

esse estalo

tão importante
para a continuidade dos sonhos ?

e porque as coisas são sempre OUTRAS COISAS ?

incomunicável

é um dissemedisse
e nadacontece.

o meio é a mensagem que é
o meio
da bocaberta,
os olhos olhando
pra outro lado,
ouvidos fechados
e pensamento sei lá
onde.

pode supor o corpo
em verbo,
atuando, emitindo, mesmo
que mudo-imóvel.

linguagem da rua,
impostada e imposta,
afirmativa,
reafirmativa,
inquisidora,
por vezes
estapafúrdia.

no vaivém
das conversas
que não se presta nenhuma
atenção,
a não ser
que ALGO esteja
em jogo.