CÉU AZUL

Impressões de viagens, alquimia de verbos, tempo quando sobra e dá vontade. Casamento de sonho com vigília. Corpo de ser vagando pela dimensão das palavras.

Thursday, February 22, 2007

Baco Visions

Sexta foi dia de derramar sangue e disso eu não gostei, mas sendo assim, ofertei. Não havia outra alternativa, aconteceu. Cortei fundo o meu dedo numa maçaneta.
O meu sangue. Na rua.

Sábado ele não apareceu. Deixei moeda grande, recebi troco, muito surpreendentemente, e fiquei contente.

Domingo senti ligeiro cheiro perto das escadarias da Biblioteca Nacional, mas ele me escapou.

Já achava que não nos encontraríamos, quando, na segunda, R me chamou a atenção para "Nero" no meio do show da Virgínia Lane. Reconheci imediatamente : estava magro, moderno, com vitalidade, pra variar muito louco, totalmente em sintonia com a vedete. Cabelos assimétricos prateados, óculos de Carlinhos Brown, ou algo mais new wave, bem fashion...
brilhante ! e querido ! Passou por nós dando alegres adeusinhos...

Terça foi mais estranho: ele passou pelo Jupiteriano como uma criança acentuadamente andrógina, gordinho, usando apenas um traje sumário, cabelos loiros, corpo moreno ouro, mamas de fora... era muito chocante... devia ter 1.30m, era muito infantil, mas de uma androginia realmente forte. Estava sozinho e sério.

Baco, Dionysius.

Black Rio

Balança, mas não cai.

Tudo a ver com a "ginga" ? menos isso que a lombra do excesso de cerveja.
Descer na Central e ir acompanhando a dispersão.
Chapéus, cabeças, ombros barrocos, com ou sem pena. Churrasquinhos, fumaças, vapores, aviões, helicópteros, dirigíveis, fogos !
É sempre recomendável tomar cuidado com o excesso de álcool.
Ao parar num isopor, um carioca DAQUELES disse-me num sorriso DAQUELES que eu deveria ser "muito safado".
Respondi : "Pode ter certeza". Apitei o mais alto, e o relógio art-deco da estação perpendiculou sobre minha cabeça. Eu estava pronto.

Atravessei a Presidente Vargas.
Mais à frente encontrei uma fantasia recém dispensada, provavelmente da Estácio. Assim, ganhei minha cabeça inca, que de tão instável, apelidei de "balança".
Vacuum form branco, forma piramidal, com raios circulares em dourado, pesada, instável mesmo. Balançava, mas não ia deixar cair não.

E ainda incensos, pra se proteger também.

Por causa de "World hold on", parei numa barraca, descansando a balança inca. Logo emendou o funk, e fiquei com a morena, que me abordava desafiante. Juntou gente, e instigaram : "Chão, chão, chão, chão..." e eu claro que encarei, e ninguém acreditou ! A morena me achava lindo, e eu lhe tocava da real...
Ah, mas aquilo ficou previsível, e eu queria a minha kizomba, então fui pra barraca ao lado, Angola Pura, onde puxei papo com Madalena. O dono da barraca passou um vídeo do Papa Wemba pra mim. Quando falei dos sapeurs foi uma comoção. O dono da barraca simplesmente chamou os mais altos poderes daquele grupo ali pra vir falar comigo. Tomei minha garrafa, mas como não tinha kizomba e o que tinha era só barulho, parti.

Voltei super suado com Marcus V no metrô, ambos cantando "Aquarius".

Na segunda voltei, mas deveria ter parado naquele afoxé, que estava animadíssimo.
Sentei com R mais ao longe num local sem graça nenhuma, e fiquei entediado. Vesti o Jupiteriano, e ao voltar pelo metrô, reencontrei Marcus V - que, por eu estar coberto, obviamente não me reconheceu - e isso me divertiu muito, pois fiz questão de lhe acompanhar, e só no último instante lhe revelei minha identidade.

É ali, junto ao Balança, em Noite de Carnaval, que minha cidade mais vive a sua essência.

Lane

É sempre meio caído, porque aquele palco é super mal montado, além de feio. A orquestra é bem fraquinha, mas tenho que admitir que já vi grandes shows ali no BAILE POPULAR DA CINELÂNDIA.

No domingo, consegui pegar um restinho do show da minha queridíssima MARLENE. Tadinha, sem voz nenhuma, amparada pelo braço pra se manter em pé, o rosto anguloso bastante abatido. Cantava CARINHOSO.
E frisava bem a palavra saudade, em referência à sua arqui-rival Emilinha.
Lágrimas me brotaram.

Segunda, Jupiteriano e Rômulo pararam pra ver ADELAIDE CHIOZZO, super Jane Russel, ainda gostosona, cantar bastante bem e animadamente sucessos de carnaval, no maior pique. Vestida de preto, elegantíssima... só ficou faltando uma cabeça de penas, algum toque mais de acordo com a ocasião. Falou de seu 75653453 filmes, suas 54356 participações em novela, mais um monte de etcéteras... Inteiraça !

Mas a supresa maior não tardava : e eu até já tinha assistido um outro show dela há uns 2 anos atrás, ela, de "TOCO CRU PEGANDO FOGO ".

Era uma aparição que nenhum manda-chuva tropicalista jamais imaginou. Lembrei muito dos looks do Sun Ra... Ela vestia uma imensa capa meio que matelassada de lamê dourado, e por baixo um cavadíssimo maiô bordado com pedras, mostrando despudoradamente as pernas a partir das virilhas. O cabelo, uma Bo Derek espacial. A maquiagem, pra lá de marcado por traços bem negros. Sim, minha gente,

Virgínia Lane é um besouro !!!!

Mas que beatle ! Esqueça Iggy Pop: Iggy é um cara tímido perto de Virgínia Lane. Que repetia o tempo todo : " EU SOU SOCIALISTA !!!! "

E intermeava as músicas por comentários a respeito da Natureza, da paixão por cachorros, a respeito de feminismo, de sua vida como amante do mais famoso dos presidentes do país, de como ainda dava pro seu homem, que ela chamava de "meu negão cheio de tesão".
Transcendência vertical, pós pop, futurista... Ficamos com a impressão que Lane sabe de tudo.
Conclamou todos a irmos a seu enterro, disse que nunca haveria um "último dia", homenageou sabiamente Emilinha Borba, contou estória sobre Carmem Miranda (e cantou "Cai cai" ), também homenageou os mais pobres via Elizeth, cantando "Barracão"... cantou sobre banana, sobre o toco cru...

Temos Helena Ignez como musa do cinema marginal, Tarsila, Danielas, Ivetes, Tatis , Scheyylllaaahzz, Gretchens, temos essas peitogirls e bundawomen turbinadas e siliconadas que aparecem meteóricas na passarela da Sapucaí, mas como, desde o Fashion Rio, acho que CHIC É TER HISTÓRIA, realmente não sobra pra ninguém :

VIRGÍNIA LANE AINDA É A MAIOR VEDETE DO BRASIL !

Rio, Branco

Nenhuma violência : nem parecia Rio !
Todas as bandeiras brancas hasteadas firmemente dentro dos corações cariocas, tão desejantes de ALGO.
Mas, o quê ?

Talvez dessa brincadeira, dessa democracia que só o carnaval permite.
E a passarela desse astral com certeza é a Avenida Rio Branco,
passarela histórica, campo neutro dos performers e suas bizarrices,
longe dos holofotes e das bunda-musas do Sambódromo.
Onde encontramos bate-bolas inspirados por temas como Betty Boop, Leonardo Da Vinci, Garfield, Carmem Miranda; onde encontramos uma diversidade inacreditável : um homem-carteira-de-identidade, o papa Bento 16, um homem-árvore, um lobo mau, homens-mulheres maravilhas, Branca de Neve e seu Labrador, rapazes de coxas grossas e minissaias indecentes, índios do Cacique, etc...

E lá vem o Cacique de Ramos.............
Dessa vez, ofereci-lhe apitos altíssimos, que criavam ecos e respostas longínquas. Aah, como é bom apitar bem alto entre arranha-céus !!! Também lhe ofereci incensos. Sim, eu fiquei incensando com 3 palitos de sândalo o abre-alas, que volta e meia servia de assento para alguma criança. E os índios abriam uma roda... havia uma pira, e FOGO ! os índios pulavam... Pois minhas serpentinas serviram por um bom tempo para alimentar a pira do Cacique. Aquilo sim !!!
E a animação ? aaaah ! Sapucaí pra quê ???

Na segunda e na terça fiquei bem feliz de encontrar no Cacique ninguém menos que meu estimado MARCOS VALLE... Esse sabe das coisas.... E ao fazer-lhe uma reverência, ele mui educadamente respondeu agradecido.

A Rio Branco !

Só dava skol : latinha 2, latão 2 e 50.
Piercings temporários : 1,99. Pipoca : de 2, de 3, de 4.
Chapéus de Tom Jobim : 4 reais. Buzina de caminhão : 8.

E o funk teimava em espreitar pelas esquinas, em aparelhagens ultra distorcidas...

4 noites deliciosas, em interação total.
Jupiteriano era o tempo todo requisitado pra fotos, inclusive pelo artista plástico Marcos Chaves. Jupiteriano também intrigava muitas crianças, e ganhava simpatia de marmanjos... maior vibeeeee !

NOVE PONTO NOVE

Carnaval na cidade.
As avenidas tomadas, reviradas do avesso.
O metrô colorido. Festa
em cada esquina.
Há tempos não se via uma adesão tão grande no carnaval carioca.
Muita gente fantasiada, muitas perucas, flores nos cabelos,
brilhos, alegria...
Desde sexta-feira a movimentação foi intensa.
Os blocos de bairro atraíam a garotada para a folia. Revalorização ?
A hipótese de congestionamento nos aeroportos é a que me pareceu mais estapafúrdia pra explicar tanta gente, tanta animação.

As Ruas !
Não saberei dizer de Ipanema, que em 2006 foi um baita anti-clímax com aquela superlotação caótica do mal, um grande equívoco. Esse ano me recusei.
Carnaval de rua no Rio é necessariamente na Rio Branco e no Balança-mas-não-cai.
Não ao ponto de acordar às 7 do sábado pra encarar o Bola Preta : por que tão cedo ???
Mas ao cair da tarde, começo da noite, talvez 10...

Saí de ET, ou seja, de Jupiteriano Alfa.
Um macacão de tyvek, desses descartáveis, usados em laboratórios, que não é tecido quente como parece + máscara comprada no Saara.
Apesar de uma certa dificuldade em respirar, curti muito.
Primeiro no sábado, com "a garota-toda-vestida-de-rosa".

Lamentável o aspecto da Cinelândia pós-Bola : IMUNDA !
Como é possível que se deixe instalar aquelas barracas-barracos horrorosas no mesmo ambiente arquitetônico do Theatro Municipal, da Biblioteca Nacional, da Câmara, do Amarelinho ??? Horrível, horrível... Frituras, lama, sujeiras, gambiarras, charques pendurados, cascas de melancia... uma imundície impressionante !
Além de nenhuma decoração...

Agora vejam : o Carnaval, que mais traz divisas pra cidade, assim, todo descuidado. Enquanto torneios de tênis em Copacabana, e essa encheção de Pan... tsc, tsc...Como pode ser assim ? Rio, favela.

Por isso perde um décimo.

Friday, February 16, 2007

La Conga Sex

Conga La Congaaa,
Congacongacongaaa !

Sim, sabemos todos da extrema importância, da posição de ícone,
da mais-que-perfeita Madonna, também sabemos que escândalos
são o prato preferido da nossa musa carioca Tati-Quebra-Barraco, cujas letras escancararam de vez o tenebroso falso pudor da música popular brasileira. Madonna simula.Tati fala.

Mas Gretchen FAZ.
e MOSTRA pra todo mundo...

Tudo bem que o melhor do dvd é o clip de abertura... Aquilo desde já figura no panteão dos clips mais antológicos...
É uma verdadeira antologia : lambada, lambida, mamada, mordida, deitada, sentada...
A moça dá achando graça, ou seja, dá COM PRAZER.
Só isso já seria considerado exótico nesse tipo de filme.
Que performances !

Vamos considerar : a moça também é ÍCONE cá entre nós, e não há quem discorde. Freak Le BoomBoom ! Coisa que brasileiro mais gosta...
Podemos suspeitar da necessidade financeira, ou qualquer outra hipótese. Mas poderemos aceitar esse dvd como uma FORMA ÚLTIMA DE PROPOSIÇÃO FEMINISTA ?
Acho admirável a coragem e a radicalidade da atitude dela. Fazer um filme é bem diferente de tirar umas fotos...
O que acho notável é que o que pode ser considerado uma transgressão de mau-gosto, também pode ser considerado como um grande manifesto em favor da liberdade individual.

Portanto, aplausos...

Congalaconga/congacongacongaaa !

Das Escrituras

Se aventurar-se para longe da página,
protegendo-se das possíveis tormentas das tintas
que se misturam confusas,
é a única alternativa possível
nesse embate existencial,
por outro lado o silêncio
- assim como o suicídio -
não deve ser a solução.

O que vamos procurar,
pondo em prática teorias e alquimias,
do verbo (que não desaprendemos),
talvez nos aguarde no ponto
exato de partida,
da chegada de sempre.
360 graus.
Ao Sol.

São as enciclopédias Conhecer,
os Visoramas,
os sexy boys;
kilômetros descalços percorridos
sobre mares mal divididos,
ao som das mais diversas línguas,
dos mais diversos rádios.

São parques de diversão
da cabeça,
planetas diários,
danças desengonçadas
mas cósmicas...

É sangue liquefeito :
a cor
do que se escreve,
do que se exaure,
do que se fixa
pela eternidade
dos momentos:

verbo
encarnado,

transitivo.



Uma forma pra existir.

A Música

Em que dimensão encontramos a música, essa que nunca pode ser descrita por palavras ?
A música apenas É.
Non stop, tempo.

O Silêncio

"O SILÊNCIO DE MARCEL DUCHAMP FOI SUPER ESTIMADO", disse Joseph Beuys.

"I WANT TO BE ALONE ", disse Greta Garbo.

"NÃO PENSO MAIS NISSO", disse Arthur Rimbaud.