CÉU AZUL

Impressões de viagens, alquimia de verbos, tempo quando sobra e dá vontade. Casamento de sonho com vigília. Corpo de ser vagando pela dimensão das palavras.

Thursday, December 27, 2007

minicontos de Natal

Clara me traz um desenho feito por ela mesma,
com dedicatória,
uma colagem com durex verde e pompons
de papel colorido, uma grande
árvore de Natal.

Miguel tem que sair do Tíbia e escovar os dentes
que nem sei quando. Depois
ele vem me mostrar os dentes,
agora brancos.

Victor Hugo olha para o livro
do Tim Burton
e algo me diz que ele vai gostar
de um livro de poemas esquisitos.

Rody liga no meio do arroz
sem decidir a música do desfile.

Marizinha chama o arroz preto de brigadeiro,
o feijão branco de beijinho doce
e a farofa amarela de quindão.

Tina faz um carinho na minha cabeça.
Adriana faz diversas variações com a palavra ENCANTO
num jogo ao computador.

Luiz Vitor deixa um recado na secretária
e logo será respondido.

Otto liga pra dizer que está em Salvador e ontem
tomou um porre com a esposa. Mas Otto
também está procurando gás na Amazônia,
morando numa balsa
onde helicópteros descem e é proibido
nadar. Botos cor de rosa
e grandes peixes (também
ariranhas) passam por debaixo da balsa.

Leoni fala de Sicília, de Éfeso,
de Sócrates e Xenofonte. Poderia ter ligado
para o Chefe Gracie, mas achou melhor não.
Leoni gosta de Chaplin e Da Vinci.

Fotografar o sol entre a amendoeira à esquerda
do Corcovado parece mágico,
dourado, mesmo
pisando no cocô (dá sorte,
dizem). Limpo na areia fina,
enquanto encontro a palavra "SEU"
trazida pelo mar calmo.
Vou fotografando.

Até encontrar o Jesus nos azulejos, e, amigos,
a vontade de ligar para Marcelo.

Vou e volto pela Portugal,
e na frente da mesma igreja,
quem encontro ?
O Marcelo !
que até senta com a esposa, o filho, o cachorro
para conversarmos.
2 abraços, 2 toques em seu plexo solar.

Em casa, a cama
acompanhado do marido.

FELICIDADE 25

Não bastaram os presentes
vorazmente consumidos com décimos terceiros
atrasados, empilhados
aos pés da árvore-símbolo
de algo que almeja Céu
(no sentido Heaven mesmo)
e que também possui luzes, estrelas. Não bastaram
as reuniões familiares
- obrigatórias -
como se na Roda
pudéssemos sempre nos atualizar
das mentiras e verdades
de nossos gens.
Tudo virou superlativo.
O que era feliz virou felicíssimo,
virou ótimo, otimíssimo,
como se felicidade também pudesse
virar presente.

Não que não possa. Pode.

Mas é estranho toda essa "comunhão",
toda essa vontade de coletivizar,
num mundo que é puro narcisismo.

Os superlativos me parecem um sintoma
necessário
para que as arestas se igualem: deseja-se
a felicidade para o outro
cada vez maior, maior
que a do ano passado,
já que "felicidade não se compra".

É na razão das intensidades superlativas
destinadas ao outro
que o individualismo se trai.

E para isso destinamos uma noite, um dia.

Thursday, December 20, 2007

uma coisa puxa a outra

isso é que é uma foto

eu preciso dormir

Z

chuva na Barra

Vem com o sudoeste,
se espalhando
em ondas crespas do Atlântico

a chuva úmida,
chuva de vento muito,

e chove tanto
que nem os barcos passam,

nem os helicópteros.

comida com gosto de nada

preferia ser um daqueles
caminhões varre-ruas,
daqueles que vêm lambendo
todo o esgoto,
toda a poeira,
todo o asfalto

a ter que engolir em seco
uma palavra
atravessada na garganta.

anti-teatro

tenho nojo
de quem precisa subir num palco pra fingir
representar um drama, que não é drama,
apenas vontade
de magnetizar,
essa opressão última
do narcisismo
sem retorno.

palco é aqui,
onde se arma a confusão,
na cozinha quente e úmida
onde um belo bolo assa
um miolo,

palco é agora,
na correria
que esbarra em ti em mim em tudo e todos,
agora já,
agora mesmo,

palco é economizar,

mas isso pouco interessa
pra quem tem mais o que fazer.

Tuesday, December 18, 2007

before and after science

Manu Chao, El Desaparecido

olho diesel

Vira moda,
ser deselegante
até que se engorde ao contrário.
O sol brilha para todos
aqueles que estudaram nos colégios
Americanos.
O sol brilha para todas as coxas apertadas
nas cigarrettes
electro-minimal
da juventude dourada e
blábláblá !

Quantas cores !
todas ainda não lavadas !
cores que chegaram AGORA.
Brancos de branco...
Pretos mais pretos que os vermelhos,
e ainda os pinks
nada transparentes !

A coisa de ser qualquer coisa
e por isso é mais caro
ser qualquer coisa com grife.

E quem vem é - digamos -
das tribos.
Eles vieram pelos celulares,
estão ali contentes,
conferindo,
atestando uma "posição"...
é uma fauna escolhida,
milimetricamente desorganizada, de forma
que o caos parece algo muito seletivo.

O cara tatua SAMBA no braço, sai de havaiana,
e paga 1300 numa calça jeans...
(espera-se no mínimo
que tenha pau grande)


campos de imantação social...

Wednesday, December 12, 2007

Let´s Jack Twist again

Te tenho guardado
no armário
das promessas.

trepa de elite

CAMISINHA

atenção: vou botar
teu nome na
MINHA BOCA.

ATÉ SALIVAR INTENSAMENTE.

Mountains

Onde, no mapa
das Terras Lendárias,
onde Amores
escondidos realizam com certa parcimônia
estranhos rituais
de semantização,
aproximação ou repulsa,
com fins de acasalamento,
onde,
debaixo dos narizes e mesas,
nas estradas tortuosas,
nas linhas mais cegas dos olhos das águias,
e dos azuis profundos
que persistem nos sonhos
molhados

onde se esconde
a pureza

das águas
e das lágrimas ?

com as quais chorei por ELE.

Faraônicas

Pra que tudo isso ? Tanto disso ?
Pra ver crescer o bolo
e estufar a conta
e ter muitos compromissos sociáveis
com gente invejosa, mesquinha e desinteressante ?
Pra ter todos os desejos atendidos
sem presença de Gênio,
apenas com destreza genética ?

Essas casas bem-sucedidas,
esses casos mal-contados,
tanto acúmulo, tanta mentira
rica, que não se pode nem mais chegar
em casa a não ser
pelo AR.

Sunday, December 02, 2007

a nova fisiologia do gosto

mil formas de cozinhar uma carne.

newgolddream

manhãs frias, cinzas
em latitudes baixas,
o sonho resplandece.

uma grande corrente de ventos
trará uma noção de futuro:
serão sons
sintetizados,
tudo que o bowie avisou...

um casaco de pele de poesia, ainda fresca,
e será eterna,
quando as maconhas ainda não terão dissolvido
em febres púrpuras
o ouro
da vida
abençoada
do belo poetinha adolescente.

soarão pianos,
algazarras,
ejaculações fartas
sobre o peito hirsutamente aquecido.
Meleiras cósmicas,
gritos graves
de um luxo que será sempre super.

ou, como o Partenon,
ou os delírios de Kaváfis,
serão para sempre associados
a uma melancolia
superior.

avestruction

covarde, esconde-te,
tua cabeça no breu
teu pescoço de funil esgoela afinando-se
por um buraquinho de fechadura :
tens medo,
tens vergonha,
tens medo de errar
a grafia dos mais pesados palavrõns,
tens um asco que irrita
a tua pele
mal dormida,
e por isso foges
para um outro mundo
escuro,
tão escuro
quanto
a cegueira de um sol brilhando perto,
pois não queres mesmo
participar
do que não é
O TEU BURACO.